quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ensaio sobre a cegueira

Um monte de excremento humano, numa viela por onde passo, me fez tomar vergonha na cara e alimentar esta página. No caminho para o trabalho deparei-me com fezes de gente. De gente. E isso me remeteu a um grande nome da literatura.

Li "Ensaio sobre a cegueira", do mestre José Saramago e assisti o filme que leva o título, baseado na obra e produzido pelo também mestre Fernando Meirelles. Um trecho chocante e que me escandalizou foi o do prédio da quarentena tomado pela imundície, pelas doenças, pela podridão. Sem ninguém para administrar e estando todos literalmente cegos, o caos virou a ordem do lugar.

Nas obras, a população do mundo é contaminada pela cegueira branca. "Ordem", "educação" e "decência" são termos abolidos diante da necessidade de sobreviver. Pois bem. Indo trabalhar e andado por uma pequena via de acesso à rua de cima, deparei-me com um montinho de fezes, que não eram caninas nem equinas. Para os queridos irracionais não há problema parar num cantinho ou no meio da rua mesmo e fazer suas necessidades. O cachorrinho ou o cavalo querem defecar? Pois que façam, oras, não compartilham do difícil convívio da espécie humana.
O caso é que, olhando pra merda de gente, naquele lugar já pos si só sujo, me senti naquela cena do filme, naquele trecho do livro, em que uma pessoa que ainda enxergava deparou-se com a realidade atual: tudo sendo devorado pelo retrocesso humano.
Embora desagradável, vale ressaltar que não se tratava de uma situação de emergência. Todo mundo sabe como é um cocô emergencial - é líquido, ao menos. Mas aquele deixado ali não era. Algum cego ao estilo do livro teve o dom de parar na viela, baixar as calças e fazer ali mesmo um ato que, de tão primitivo e desagradável, dá vergonha e é feito às escondidas.
O primeiro pensamento que inchou minha cabeça foi "eu não acredito". Mas, enquanto subia a viela, raciocinei sobre a ficção e a realidade. O limite da decência e da condição humana foi colocado em xeque pra mim. De verdade, a analogia feita por José Saramago não é ficção... é mais real do que qualquer pedra que eu possa ver e tocar ou que a minha própria imagem no espelho.
Quando será que esse cidadão ficou cego para a sua própria condição? Quando terá parado de se enxergar? Em que momento deixou de ver que ainda existem, embora não se saiba por quanto tempo, alguns hábitos lógicos da vida de qualquer um?
Terá sido você, grande e saudoso Saramago, o atual Nostradamus?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Auto-escolas tem outro nome: ante-sala do inferno

Muito cuidado, estimado leitor, ao procurar uma auto-escola em sua região para providenciar sua primeira habilitação. Sou conhecimento de causa ambulante de que pouquíssimas coisas ainda funcionam neste país e auto-escolas, definitivamente, não são uma delas.


Dei entrada no processo da minha habilitação em novembro de 2009. Peguei-a hoje, 10 de março de 2011. Fez aniversário nas mãos, gavetas, arquivos e respectivos rabos do proprietário, gerente, instrutores e outras melecas que compõe a auto-escola que, infelizmente, procurei.


Não existe mais, já há muito tempo, o bom senso de reconhecer um erro, ou uma série deles. A pasta com meu processo ficou três meses parada, enfiada no orifício anal de alguém. Pastas de papelão não têm pernas, por isso precisam ser entregues pessoalmente, por algum indivíduo, nos departamentos ou circuncisões de trânsito. E foi isso, além de outras muitas mazelas, o que atrasou em pelo menos seis meses a entrega do meu documento.


Pontuando os problemas da auto-escola a que me refiro:
- desorganização no arquivamento de todo e qualquer documento
- telefone sempre ocupado ou sempre só chamando
- gerente que NUNCA está para responder uma miserável pergunta
- recepcionistas que não sabem responder a nenhuma pergunta, nem as miseráveis
- proprietário inacessível. Mais fácil achar os piolhos da barba de Osama Bin Laden
- não cumprimento de prazos. Atrasou e pronto
- outros problemas que serão lembrados conforme a raiva for passando


Moro na Grande São Paulo, município de Embu. Quem quiser saber o nome da referida auto-escola, favor deixar comentário. Terei o mais sórdido prazer em informar todos os dados necessários.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

À la Homer Simpson


A pessoa (i)responsável pela abertura da comporta da represa Paiva Castro, em Franco da Rocha (SP), assistiu a todas as temporadas dos Simpsons e baseou-se no célere Homer para fazer o trabalho. "Deixa comigo", disse. Acionou o botão e foi tomar um café. Alguém lembrou-lhe, "e aí, já terminou a vazão?".


No fim das contas, muito mais água despejada do que o acertado/planejado/combinado. Cidade alagada, intransitável, muito lixo e desperdício. Parabéns, viu?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De novo é natal

Sim, de novo. Calor sem fronteiras e inesgotável. Ar natalino que passa em frente ao nariz e por cima da cabeça. Cheiros e impressões únicas de final de ano. Perguntas, respostas e hábitos clássicos, batidos e ultrapassados, talvez.

Avenida Paulista na noite de 19 de dezembro estava com calçadas intransitáveis. Motivo? As luzes de natal mais papais noéis grandes e desengonçados ao longo da avenida, nas fachadas dos prédios, árvores, guias, tudo. Um papai Noel gigante empunhava um microfone, com postura incorreta. Dentro dele uma caixa de som produzindo jingles manjados. Papai Noel só mexia o lábio inferior, sem piscar, congelado e meio assustador. E todo mundo tirando fotos.

Estive lá com meu parceiro, homem da minha vida, que me presenteou um jantar romântico e uma aliança num restaurante lindo da Alameda Santos. Para voltarmos pra casa, só passando pela Paulista.

Um fato curioso e acalentador, embora estranho: uma menina de seus oito anos esperneava desesperada, o olhar transtornado, nos braços da avó, que queria fotografá-la ao lado do papai Noel cantor. A infeliz urrava de pânico e chegou a olhar no fundo dos meus olhos. Quis salvá-la, mas ela mesma conseguiu cair das garras da velha e se recusou a chegar perto do bom velhinho.

Interessante estar naquela aglomeração absurda. Muitas constatações. São Paulo é lugar onde talvez não caiba mais gente, mas é grande feito o coração de uma boa mãe. Paulistano é raça engraçada e que se diverte e distrai com qualquer coisa, além de não ver problema nenhum em estar em filas intermináveis em qualquer lugar, passar por pelo menos três catracas por dia, andar com passinhos curtos e pedindo desculpas pelos esbarrões. Acostumados também a viverem em questão de horas as quatro estações do ano. Gente boa, paulistano é da hora.

Claro que não nasci para estar em meio a tanta gente ao mesmo tempo. Jovem idosa, não acho saudável um montão de pessoas ao meu redor, respirando ar viciado, esfregando-se uma na outra para poderem entrar ou sair de um lugar. O caso é que natal é isso. O que deveria ser mero feriado é dinheiro que anda. Quem compra roupa pro natal compra também pro dia da bandeira? Ou pro feriado de Tiradentes? Todo esse clichê também é falta de opção. Pensar em hábitos novos é cansativo pra muita gente.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Cruel, sim. Cruel.

Assistindo pela segunda vez o longa "O menino do pijama listrado" senti-me idêntica à mãe das duas crianças nazistas a respeito de uma situação ruim: saber dessa situação, condená-la e ficar inerte, feito uma ameba sem osmose.

O que me fez sentir assim foi um acontecimento cruel, rotina diária de um lar que frequento. No quintal, um dos mais degradantes objetos existentes na história da humanidade. Dentro do objeto, uma criatura indefesa, frágil, bela e alada. Trata-se, respectivamente, de uma gaiola e de um passarinho.

Uma gaiola velha, pequena e sinistra, além de triste, serve de "casinha" a um pássaro de penas negras e que um dia foram brilhantes. Esse animal definha a cada instante, fica parado, esperando as horas, os dias e a vida passarem sem a menor graça, esperança ou sentido. Patinhas paralisadas. Bico fechado. Olhar parado.

Percebe-se que a única pessoa a não se incomodar com semelhante selvageria é o "dono" do animal. Todo mundo em volta esbraveja, se entristece, faz cara de choro. E só. Ninguém, inclusive eu, tem o dom de tirar o animal de lá e levá-lo a um lugar aberto, onde possa morrer sozinho, de fome, talvez atacado por um bicho maior. Mas INEGAVELMENTE morrer com decência. A decência mínima da vida para os justos - morrer em liberdade, pois não cometeu e nunca cometeria nenhum crime.

Costume dantesco, ateu, nada cristão. Brincar de Deus não é coisa só de ex-presidente dos Estados Unidos. Apossar-se de um animal e prendê-lo numa jaula, mais gravemente ainda tendo ele asas, não pode ser atitude provinda de mente sã. Ouvir um pássaro preso cantar e não ouvir ao mesmo tempo o seu pedido de soltura é ser surdo. Surdo e doente mental.

Senti-me como aquela mãe mais-ou-menos-nazista do filme. Vejo o que está errado e não faço nada para mudar, a não ser repetir uma ladainha que já cansou inclusive a vítima. Recusei-me, porém, a chegar perto da gaiola até que o pássaro morra ou que alguma atitude seja tomada. Ficar olhando pra ele, lamentando sua sorte e condenando o que foi feito - apenas isso - não faz de mim uma pessoa justa. O certo seria abrir aquela prisão maldita, pegá-lo e sumir de lá com ele, mandando às favas tudo o que diriam a meu respeito.

O que me diferencia daquele animal é minha capacidade de raciocínio. Ter ele órgãos vitais, pele, sangue e tudo o que eu também tenho para viver faz de nós dois SEMELHANTES. Um pássaro, se raciocinasse, não prenderia um humano numa gaiola para vê-lo cantar ou fazer outra merda que o valha. Não tem graça. A vontade instrínsica de maltratar, existente nas cabeças humanóides, é o que mantém um pássaro numa gaiola. E a impotência de quem se incomoda é a mais triste das vergonhas. "Vamos celebrar a aberração de toda nossa falta de bom senso, nosso descaso por educação", caro Renato Russo. Vamos celebrar sim, é o que resta fazer.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Falta de energia no Metrô comprova: bom humor salva vidas

Situação atípica na linha lilás mostra que é possível rir e tirar alguma lição divertida, mesmo para cidadãos estafados

Eis que na estação Giovani Gronchi, da linha 5 do Metrô (Capão Redondo-Largo Treze), faltou energia as 16h do dia 30 de novembro, durante um forte temporal na região. Para sorte dos claustrofóbicos, o trem ficou parado com as portas abertas - em outro trecho provavelmente as portas não abririam, mesmo com o acionamento dos dispositivos internos. Passados alguns segundos, as primeiras mensagens sonoras começaram a ser disparadas: a circulação estava temporariamente suspensa. Em seguida, novas mensagens acalentaram os corações aflitos e os bolsos e bilhetes únicos vazios: os trens haviam voltado a circular, com velocidade reduzida e maior tempo de parada nas estações.


Quem esperava o prosseguimento da viagem dentro do vagão viu um funcionário do Metrô entrar e pedir que todos se dirigissem à outra plataforma, pois enquanto a situação não fosse normalizada, os trens circulariam por um trilho apenas. E nessa plataforma vizinha o caos já estava parcialmente instalado. A aglomeração gerava um barulho uniforme e incompreensível. A graça começou quando a voz do além disse, antes de maiores frustrações: “Atenção! O próximo trem a parar nesta estação seguirá com destino ao CAPÃO REDONDO”, quando deveria ir para o Largo Treze. Um coral sem ensaio, mas perfeito, entoou primeiramente o lamento “aaahhh”, seguido por palavrões clássicos. Ainda assim era possível ver dezenas, se não centenas de sorrisos mais ou menos desesperados.


O trem aproximou-se e dentro dele um número três vezes maior do que a capacidade máxima de pessoas as deixava completamente amassadas, ao estilo Mr. Bean. Essa locomotiva pararia para desembarque e também embarque, este último seria inconcebível, não estivéssemos no país do “não desisto nunca”, o que sempre me cheirou a frustrações imensas. Tentar incontáveis vezes e falhar, não concluir sonhos e ainda ter orgulho disso não deveria ser jargão de nação ou país.

Enfim, as portas se abriram e começou o desembarque. Quem saiu, saiu; caso contrário, foi empurrado pela onda de pessoas que entraram, pedindo desculpas e disputando ainda mais aquele ar já viciado por completo. Se coubessem confortavelmente 100, ali haveria 400, sem a menor dúvida. A viagem prosseguiu aos trancos e barrancos. Uma dessas figuras naturalmente engraçadas, que abrem a boca e soltam piadas toscas e divertidíssimas, estava no meio de dezenas de pessoas mais altas, o que não permitia ver seu rosto. Só se escutava a voz: “Gente, todo mundo de braço abaixado, pelo amor de Deus”. Risadas. “Nunca senti cheiro de sovaco e não é hoje que quero isso, depois desse calorão”. Gargalhadas. Alguém comentou “Nossa, vou descer na Vila das Belezas e esperar o próximo, este não dá”, ao que foi respondido “Mas este é o último, amigo! O próximo só amanhã!”. Mais risadas. Percebia-se o cansaço de todos: do piadista, do zoado, do povo inteiro. Até as risadas eram cansadas. Mas era, de algum jeito, divertido estar ali por cinco minutos. Na estação Campo Limpo, o gozador começa a falar “No próximo eu desço, gente! Preciso descer no próximo!”.

Na estação terminal, pessoas desciam a escada rolante em funis, e pareciam treinadas para passar em vãos de ampulhetas. Um colega comenta com outro: “o cabra que se aposenta e continua num lugar destes é doido”. Tive que olhar para trás, sorrir e concordar.

Um homem bem humorado transformou uma situação caótica em instantes de risadas, talvez mais valiosos do que as manjadas e cansativas comédias “stand up” que resistem, que não se cansam de si mesmas. Um amontoado de pessoas suadas, estressadas – e mal remuneradas em sua maioria – conseguiu manter a peteca no alto e não ceder ao conflito de bate boca e lamentações que não aliviariam em nada. Um toque pequeno de bom humor salvou neurônios, preveniu gastrites, evitou uma série de desagrados. Salvou vidas, indiretamente, mas salvou. E eu estava lá pra conferir isso.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Horário Eleitoral Gratuito

Esta certamente será a pior eleição da história da democracia, no tocante à ética, bom senso e respeito com o eleitorado imbecil. Não apenas pelos motivos óbvios de promessas deliciosas e impossíveis de serem cumpridas. Não apenas também pelo papel ridículo ao qual se sujeitam dezenas de candidatos, lendo grosseiramente um texto em cima da câmera e não se dando ao trabalho sequer de decorar seu número. Não, não é só por isso que essa será a mais triste eleição na história sofrida da democracia brasileira.

Colunistas de peso escrevem diariamente seus pontos de vista inteligentes a respeito da vergonha que é assistir os candidatos na televisão. Parece-me que eles não se surpreendem mais e este é o meu sonho de cidadã: acostumar-me com as discrepâncias que esbarram comigo todos os dias. Infelizmente ainda não me acostumei.

Não enxergo a natural graça do personagem Tiririca como candidato a deputado federal. Nos programas humorísticos a simples presença dessa figura já basta. O grande problema é ele usar seus trejeitos circenses numa campanha que deveria ser séria e ética. Causa ganas de vomitar seu vocabulário chulo e infantil, os tiques nervosos, o sorriso, o figurino. Pior do que está fica sim, Tiririca. Experimente colocar um bode numa casa sem água e com 20 pessoas. Fique uma semana com o bode. Livre-se dele após esse tempo e tudo vai ser uma maravilha, mesmo com tanta gente e sem água. Sua presença no horário eleitoral se assemelha ao bode.

Músicos com talento duvidosos também se candidatam a cargos de deputados. Usam discursos bonitinhos e que agradam ao povo nada esclarecido. “A família é a célula-mãe da sociedade”. Muito interessante e curioso. Até o povo nada esclarecido uma hora cansa das músicas bobas e dos shows repetitivos. Entrar para a vida política é realmente uma maneira fácil e tranqüila de ganhar dinheiro sem fazer semelhantemente nada.

Mulheres vulgares também fazem do horário eleitoral um circo dos horrores lastimável. Uma solta que “jovem vota em jovem”, declarando que nunca vai envelhecer (ou, pior ainda, amadurecer) ou que esta será sua única participação no universo eleitoral, pois quando começar a passar do ponto terá que saltar fora. Jovem vota em jovem e termina de ferrar com tudo, com o pouco que ainda funciona capengando. Jovem vota em jovem e o eleitor pergunta à deputada “quem foi Pedro Álvares Cabral?” e o silêncio constrangedor é o comentário que se faz à frase infeliz lançada em campanha. Jovem vota em jovem e está liberado o disparate de ideologias pobres e sem fundamento: negro vota em negro, idoso vota em idoso, professor vota em professor e daí por diante. “Jovem vota em jovem” é o cúmulo da falta de argumentos.

Outra candidata, que parece ter parado no tempo, tenta fazer jogada sensual com seu número de campanha. Feia. Atitude feia, pessoa feia, frase feia. Todo o acúmulo de feiúras numa pessoa só, que tem o direito de tentar entrar para a rima “bandalheira brasileira”. Tem todo o direito, pois vivemos num país livre, laico e afogado nas piores baixarias que toda essa liberdade traz.

Professores que se imaginam revolucionando o mundo também estão na festa, inclusive distribuindo jornais meramente ilustrativos. Professores de escolas públicas que não se dão ao trabalho de revisar um jornal tablóide, com textos infestados de erros de concordância, pontuação, acentuação. Distribuem e só,afinal, seus alunos não vão mesmo perceber o desrespeito com o idioma. Antes disso, porém, fazem inferno em frente às Câmaras Municipais, tentando afetar vereadores e deputados dos quais, se eleito, será amigo.

Há ainda a campanha do Governo para que seu voto, meu caro amigo, não seja em vão, nulo, branco etc. Uma mobilização gigantesca enche de comerciais engraçadinhos o intervalo comercial das programações: “você pode escolher entre isto e aquilo outro”, “pode escolher entre ficar parado e fazer a diferença”. Brilhante! Emocionante! Eu posso sim escolher entre tudo isso, obviamente, na minha vida pessoal, profissional, amorosa ou qualquer outro aspecto. Exceto o democrático. Sozinha, não posso eleger quem respira o bom senso e a dignidade. Meu voto não vai tornar deputado, senador, governador ou presidente aqueles a quem admiro e que me respeitam como cidadã, como profissional, como mãe de família. Minhas escolhas na urna eleitoral não farão diferença. Se a diferença de intenção de votos for muito grande entre os dois primeiros candidatos, meu voto não fará a mínima diferença. Se estiver acirrada, voto a voto, talvez sirva para desempate. É isso. Por que, então, essa mobilização tão triste? Se o trigo está tão longe de tomar conta das necessidades da população, por que o incentivo a acirrar a briga do joio? Por que garimpar uma plantação de maçãs podres para tirar de lá as que ainda se salvam?